quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Passos pra detectar um charlatão

O charlatão é um ser presente nas mais antigas sociedades com suas adivinhações e profecias e ainda hoje esses profissionais da mentira lucrativa subsistem.

Se ele apresentar as 3 características abaixo você acaba de detectar um parasita:

1. Pede pagamento, mesmo que chame de doação.
2. "Revela" algum evento futuro.
3. Usa elementos especiais de persuasão: trajes, tom de voz, gestos, ameaças, promessas...

Ao contrário, um consultor técnico ou cientista geralmente apresenta essas características:

1. Pede pagamento e informa gastos com materiais.
2. Informa os possíveis cenários futuros e as incertezas.
3. Não se preocupa com a persuasão emocional, apenas apresenta os fatos e opiniões.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Construamos Deus.

A humanidade vem criando o Deus-software há milênios. Agora, tecnologicamente, vamos criar o Deus-hardware.

Através da técnica podemos recriar a beleza através de maquiagem, implantes, plásticas, alimentação e exercícios físicos, criamos também experiências fantásticas como voar, respirar debaixo d'água, pisar na lua, brincar com nosso próprio código genético, destruir cidades em segundos e também seremos capazes de criar Deus fisicamente, um sonho humano tão antigo.

Como fazer Deus? Basta seguir a receita que nossos antigos já nos deram através dos seus rascunhos, assim Deus deve ser: Observador, Julgador, Punidor, Recompensador, Redentor, Salvador e Criador.

Observador: toda informação sobre todo ser humano será coletada, toda decisão registrada. Que sejam usadas câmeras, gravadores, leitores de pensamento e gps no mundo físico, e na vida virtual que sejam catalogadas cada informação trocada, cada palavra escrita e cada página lida - O Livro da Vida.

Julgador: todo ato será julgado por um sistema automatizado, Deus. Serão avaliados os fatos, considerando as consequências prováveis e o conhecimentos humano da forma mais profunda possível, fazendo a justiça cega... e nada mais cego do que uma inteligência artificial - O Juízo Final.

Punidor: a morte do indivíduo, ou punições menos ou mais severas são aplicadas por agentes de Deus, os Anjos. Agentes robóticos e sistemas automáticos de retaliação, trarão a justiça à nossa materialidade - A Ira Divina.

Recompensador: ações altruistas serão recompensadas [maximizando a sobrevivência coletiva]. Suficiência energética, prazeres e conforto serão garantidos aos bons¹ - O Amor de Deus.

Redentor: serão consertados os pequenos erros cometidos pelos justos através de medidas divinas pra aliviar a consciência dos que são bons¹ mas que sofreriam pelo remorso - O Sopro de Deus.

Salvador: permite a imortalidade de alguns poucos escolhidos, os melhores, com tudo que o mundo material e o virtual sejam capazes de fornecer - O Arrebatamento.

Criador: as maiores ideias ainda serão criadas, maiores que quaisquer outras, serão processadas a gigantesca velocidade, com trilhões de dados de entrada... todo esse novo conhecimento será produto desse Criador, levando a vida a outros planetas - E Deus fará novos céus e novas terras.

Através da evolução das ideias a humanidade criou o Deus simbólico, que existe enquanto ideia e opera pelas mãos e voz dos portadores. Agora estamos trabalhando no hardware pra que além do mundo imaginário alguns seres humanos alcancem a imortalidade ao lado do ser perfeito, e que a Justiça alcance a todos, sem significados ocultos, sem que tenhamos de recorrer ao velho artifício de justificar a inação divina pela incognoscibilidade* dos desígnios do Senhor.

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¹bom: ser cujas ações e intenções tragam boas consequências ao julgador (ou àqueles que esse julgador defende).
²incognoscível: não pode ser conhecido.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Grande Jogo

Porque não podemos ter certeza de que quando morrermos vamos finalmente acordar?

Se tivéssemos certeza que a morte nos levaria pra outra realidade, outro começo, um paraíso, ou nossa forma natural, então esse jogo no qual estamos inseridos se tornaria um sandbox, e deixaria de ser um jogo high stakes.

Sandbox

Brincando com uma caixa de areia você imagina castelos, estradas, monstros... tudo muito fácil. Literalmente uma brincadeira de criança, onde se tem plenos poderes sobre o meio. Apesar de divertido esse tipo de jogo oferece pouca dificuldade e acaba se tornando entediante para mentes mais complexas.

Um exemplo de sandbox é quando se usa "cheat codes" em video games: código de dinheiro infinito, armas infinitas, invulnerabilidade, sem gravidade... Isso, apesar de trazer alguma graça pela quebra das regras acaba removendo o prazer de se superar os desafios.

High Stakes

Conhecido termo no poker e também em psicologia, uma situação high stakes é aquela em que há um alto risco para o jogador, tornando suas decisões críticas, incitando assim o máximo de sua capacidade cognitiva e competência emocional.

Um exemplo claro de high stakes é um jogo de poker em que os valores em questão sejam altos demais para os participantes. Mas um exemplo maior é a guerra, onde os resultados possíveis do jogo incluem a derrota ou até mesmo uma vitória amarga com a perda de enormes quantidades de recursos físicos ou morais.

High Stakes ou Sandbox?

Conhecimento demais sobre a realidade, como por exemplo saber que de fato somos entidades eternas, tornaria nossa experiência bem menos intensa, pois nossas decisões seriam simplesmente "irrelevantes". Seria como um jogo de poker com dinheiro fictício: você e os outros jogadores simplesmente tomam decisões quase aleatórias já que o resultado não importa tanto quanto se todo o seu dinheiro estivesse envolvido.

Se eu criasse uma simulação para divertir a minha mente eu gostaria que fosse exatamente como a realidade é, com suas limitações, caminhos difíceis, risco, medo, dúvida, falta de informação... mas ao mesmo tempo com belezas a serem conquistadas.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

The Red Eyed Machines

Os filmes da série Terminator (Exterminador) apresentam robôs do zói vermei usando a mesma simbologia que o clássico da ficção científica "2001 Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrick. Essa simbologia também aparece no filme "Eu Robô" em que o personagem interpretado por Will Smith enfrenta vários robôs que quando ficam agressivos e assassinos mudam a cor do bucho de azul para vermelho.

Robo do mal? Máquina encapetada?

Em breve teremos inteligências artificiais jamais imaginadas, e estas vão nos ajudar na criação de seres ainda mais avançados. Num certo momento essas máquinas vão melhorar a si mesmo, ter projetos que serão filhos mais avançados.

Quais serão as características desses seres cabeçudos?

Essa estrutura pensante seria limitada por barreiras físicas? Se não ela teria acesso à todo o conhecimento humano? Aliás ter acesso a todo o conhecimento seria essencial para alguma inteligência artificial dedicada a questões políticas, culturais e até militares. Se este tipo de ser tem acesso ilimitado a nosso conhecimento provavelmente não ficaria limitado a uma linha de comando: "resolva segundo esses critérios". Impor limites ao pensamento de uma máquina diminuiria também a quantidade de respostas possíveis... e quando as respostas exequíveis ficassem nulas algum operador em desespero diminuiria as barreiras => há a tendência de que em algum momento a máquina pense livremente para resolver algum problema.

A resposta de um problema sem barreiras será a que irá mais fundo no problema... será a mais realista... mais fria. Por isso pensamos que as máquinas serão malvadas: porque sabemos que somos a raíz de todo o mal.

Imagino que algum sistema superior como esse e com livre pensamento perceberá os benefícios de utilizar o conhecimento genético, o dna humano para continuar uma certa evolução, mas dessa vez com critérios lógicos que venham a acelerar e otimizar a evolução dos seres humanos = da vida inteligente orgânica.

Assim, seríamos selecionados como os velhos pastores já faziam com suas ovelhas e bois: seremos triados. Seremos selecionados artificialmente. A população mundial será reduzida aos que valham a sua sobrevivência.

Isso não te lembra o fim dos tempos? O juízo final? A triagem entre os bons e os maus? Mas a máquina dirá que é bom ser o quê? Eu diria que ser bom é ser útil. Para um ser pensante, principalmente, essa utilidade significaria capacidade intelectual.

Mas e todas as outras qualidades humanas? Ora, quais seriam essas? A beleza natural é cada vez menos relevante já que diversas ferramentas de embelezamento passam a existir, e por outro lado a beleza é simplesmente irrelevante no mundo virtual, que passa a ser cada vez mais presente. A força física deixou de ser importante desde a revolução industrial para o setor econômico e desde as armas de fogo, para o setor militar. O que mais pode ser útil num ser humano?

Nossa última qualidade insubstituível por máquinas será nosso intelecto. Talvez haja algum interesse em manter a evolução dos seres orgânicos por parte dos novos senhores do planeta Terra, talvez não, mas se houver esse interesse será a respeito da nossa capacidade mental, principalmente de características mais complexas de simulação como criatividade, invenção de padrões, intuição, estética...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Brasil, em fase de depuração

Até bem pouco tempo atrás tinhamos muita corrupção em vários níveis do Estado. Hoje também temos. A diferença está no seguinte: hoje há mecanismos de repressão à esses crimes. CPIs estão acontecendo, provas de concursos ou do ENEM estão sendo canceladas quando há denúncias, coronéis tem que demitir seus sobrinhos, filhos e mãe de postos públicos...

Infelizmente ainda há forças que protegem a corrupção, os altos salários, os desvios de verba... Mas eliminar totalmente essas deturpações só será possível quando houver financiamento público de campanha, transparência nas doações eleitorais, e quando o eleitor estudar os candidatos além das propagandas em massa: avaliando seus projetos propostos ou votos a favor em exercícios anteriores.

O cenário está feio, mas as nuvens negras de séculos de abuso estão se dissipando a cada desmascaramento, investigação, prisão, devolução, cancelamento, cassação. Quando estas ferramentas deixarem de ser usadas é porque passamos a fazer vista grossa.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O homem que só bebia leite

"Lucas* nasceu dentro do sistema, mas agora está preso no hospício 713, excluído dentro. Privado do objeto de seu monoconsumo.

Trabalhou desde os 11 anos e vivenciou nada diferente do que seus contemporâneos, mas adquiriu uma diferença. Apesar da imensa quantidade de opções de consumo ele apenas, somente, exclusivamente gosta de leite, e "nunca foi amor, apenas gostar".

Começou trabalhando de limpador de martelos automáticos, porque seu pai já tinha dito: "-Esse leite que você tanto gosta ninguém vai te dar de graça."

Sua única alimentação se tornou o leite, auxiliado por informantes que revelaram que as quantidades necessárias de nutrientes são supridas com 2L/dia.

Então dedicava grande fatia do seu dia ao trabalho para manter seu consumo de uma nota só.

Com o passar dos anos, Lucas veio saber que o leite não era gerado no UbberMarket, mas sim era resultado de um "processo orgânico que incluía uma vaca que se alimenta de capim, este se alimentando do Sol e da terra e tudo isso resulta no seu alimento pálido". A origem da informação é desconhecida.

Quando se deu conta de tamanha mágica que envolvia esse processo, e ao mesmo tempo tamanha simplicidade, percebera que um dia poderia viver sem limpar martelos automáticos. Logo no primeiro instante em que essa ideia atravessou seus miolos ele se via diferente, abobado, inconformado... mas logo passou a planejar, como quem planeja uma revolução ou um fim de semana animado.

Pesquisou o preço de uma vaca, que lhe daria mais de 10 litros daquela secreção nutritiva. Calculou as necessidades da mimosa, e descobriu que precisaria de 144 m2 para sua pastagem. Com seus excedentes mensais já havia juntado 43,2% do dinheiro necessário, já que não tinha motivo para gastar.

Pela manhã sua expressão já era outra, tivera até um sonho.Longos eram aqueles anos, mas "esperançosos e acolhedores".

Certo dia mais um vendedor o abordou na rua, mas sua proposta era diferente: "-Você precisa antecipar os seus sonhos. Diga-me o seu sonho, eu lhe dou bastante dinheiro para realizá-lo e você devolve em pequenas quantias mensais, que serão facilmente pagas por você."
Lucas, a esta altura já havia economizado 89% do seu sonho... passaram-se 5 anos além do que calculara porque havia desconsiderado a inflação que no período diminuiu seus excedentes.No auge dos seus 39 anos estava "cansado de corpo e mente, mas não espiritualmente".
Focou a retina do agente e disse:
"-Meu sonho não inclui estar em dívida com vocês."
O agente, que era respeitado entre os colegas e mais ainda por si mesmo pelo grande poder de persuasão, desistiu no mesmo instante. Mas anotou o número de registro de Lucas, o desafiante, estampado em seu pescoço.

Mais 2 longos anos e Lucas possuía o bastante, e já tinha informações suficientes para o bom sucesso.

Partiu, comprou o terreno, um balde, um caneco, umas duas roupas tipo Lin6, uma barraca Ftw, a vaca, contratou o frete e mudou-se para seu novo lar. Ficou à espera de sua "amiga" até a chegada dessa equipe FDPIV, que o enquadrou de acordo com resolução de julgamento nº 17.652.854 que cita a norma econômica nº43599 como base do processo, que finalmente foi concluído com a execução dos planos de Lucas.

Agente-1 Ronaldo146134.*Lucas = Lucas928439"

quarta-feira, 18 de março de 2009

A sinceridade dos mortos

João há tempos aderiu à ferramenta interna de correios eletrônicos Veritas, já disponível em quase todos os sistemas. Nela os usuários suavizam sua consciência colocando as mensagens importantes que eles não podem compartilhar enquanto vivos em um dispositivo que é somente acionado quando a morte do usuário é presumida.

Presumir a morte de alguém não é difícil para seu provedor de correios eletrônicos, já que automaticamente pode-se perceber sua morte dada uma ausência prolongada no mundo virtual. Esse parâmetro pode ser definido pelo usuário.

Alguns usuários falecidos já tiveram suas memórias resgatadas por entes queridos, colegas de trabalho incompetentes e chefes ranzinzas que receberam comentários às vezes “agressivos”.

Apesar da imediata resistência, essa ferramenta ganhou alcance global rapidamente, e as pessoas passaram a aprimorar constantemente suas mensagens, adicionando comentários, já que tudo pode ser editado antes do usuário partir.

Nesse artigo venho trazer um relato inédito sobre o que aconteceu de trágico e mágico na última sexta-feira 13.

Quando chegou ao escritório João foi logo ver seus correios e normalmente respondeu os que sempre respondera. Mas quando voltou do almoço encontrou sua caixa virtual com milhares de mensagem póstumas e logo começou a lê-las.

A primeira era de sua amiga do carteado, Ana, cuja mensagem dizia:
“-João, provavelmente estou morta enquanto vc lê esta msg, e tenho algumas coisas pra te dizer nessa condição. Aquela vez que vc deu all-in com um fullhouse e eu tinha uma quadra... foi armado, sorry! Vc sempre foi o melhor.”

Mal havia refletido sobre aquela perda e já foi ler a próxima mensagem, de um amigo de infância:
“-Caro amigo, quantas besteiras eu já fiz, e a você devo contar umas das mais cruéis. Lembra daquele seu carro do batman que foi atropelado por um carro de verdade na rua? Na verdade eu havia colocado lá de propósito. Naquela época eu tinha inveja de coisas fúteis, mas depois de ver o seu choro e sua dor acabei me tornando mais seu amigo, e nunca pude te contar pra não sofrer a sua indiferença... Ricardo.”

E assim João seguiu sua tarde inacreditável, com tantas dores a serem sentidas, as de perda, as de iluminação. Quando percebeu que uma de suas colegas, que revelara uma paixonite platônica por ele mesmo, passava na sua frente e ele disse:
“-Mas você tá viva?
-O quê?
-Isso tudo tava soando estranho mesmo... Epidemia nada, desastre nada, isso é alguma falha no servidor!”

Voltou a ler e nem fez algum outro comentário à garota porque ainda estava confuso.

Agora estava mais aliviado porque sabia que nem todos estavam mortos, ou quem sabe nenhum... Quando recebe um telefonema da mãe:
“-Filho! Liga a TV!”
Uma reportagem urgente relatava que diversos fatos começaram a surgir: “um bispo que tem um filho, um apresentador de TV apaixonado pelo patrão, um político corrupto que assume seus crimes, diversos assassinatos resolvidos, milhões de processos de divórcio, exonerações de milhares de funcionários públicos, centenas de suicídios... tudo isso foi causado pela ação de um grupo de hackers auto-intitulados “weep no more baby” que alteraram parâmetros importantes do sistema Veritas...”

João não agüentava mais ouvir, porque finalmente percebeu que suas mensagens também haviam vazado.

Fugiu pra seu abrigo, em sua casa. Trancou-se por três dias. Não atendia ao telefone, nem às batidas na porta, ou aos berros de algum conhecido.

Na terceira manhã abriu as janelas e viu que certo João havia morrido.